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Região

Osvaldo Cruz detecta vários casos de leishmaniose em cães

13 de Novembro de 2023

11h15

Por: Portal FM Metrópole / Wilson Bettiol

A Leishmaniose tem trazido grande sofrimento para os animais e muita tristeza para os proprietários dos cães e as vezes até gatos, acomete também seres humanos, sendo que em situações estremas leva até a morte.

A Leishmaniose em humanos pode ser a mais simples, na pele, ou a forma mais grave atingindo órgãos internos como fígado, baço e outros.

Recentemente tivemos um caso da doença em uma idosa no município de Tupã, e frequentemente são registrados casos da Leishmaniose em humanos no estado.

A reportagem do Portal Metrópole de Notícias preparou uma matéria especial ouvindo vários profissionais ligados ao assunto.

Começamos pelo médico veterinário Dr. Marcelo Cândido, Coordenador da Vigilância Epidemiológica do município de Osvaldo Cruz, para saber o que tem sido feito para combater o problema. “O trabalho da Vigilância Epidemiológica consiste em fazer visitas quando a pessoa solicita para avaliação de um animal com sintomas, onde passamos as orientações, pois a Leishmaniose é uma doença que tem tudo a ver com o manejo ambiental. A gente orienta também a população que o mosquito palha, que é o vetor da Leishmaniose, ele gosta de ficar em locais úmidos, frescos, na sombra, folhas e frutos em decomposição, estrumes de animais acumulados no quintal, plantas que tem palhas embaixo, são locais propícios para a procriação do mosquito.”, disse.

Como a doença é circulante na cidade, tendo o mosquito, naturalmente o problema se agrava. A doença só passa para o ser humano através do mosquito, que vai picar o cão contaminado, e depois picar a pessoa que ficará contaminada. O simples fato de ficar no mesmo local com o cão não transmite a doença. “Nós da Vigilância Epidemiológica seguimos o protocolo do Ministério da Saúde, onde em caso de exame positivo, o proprietário entra em contato com a VEP, e esse animal é encaminhado para ser feita a eutanásia. Quando o estado envia os kits para exame, são feitos os testes com o sangue colhido dos cães, para saber se o animal tem ou não a Leishmaniose.”, finalizou Marcelo.

Também falamos sobre o assunto com o veterinário Dr. Luís Paulo da Ponte Rigoleto, que destacou que o número de diagnósticos de animais contaminados tem sido frequente. “Infelizmente temos feito muitos diagnósticos da doença e praticamente todos os dias temos casos novos aqui na clínica e acredito que não seja só comigo, que os outros colegas de profissão também passam por isso, e não é só Osvaldo Cruz, é nossa microrregião. Mas esse número é muito maior diante da tese de que a maioria não apresenta sintomas, então os exames feitos nas clínicas são apenas a ponta do iceberg.”.

Segundo o veterinário, existem muitos casos que são negligenciados, onde o tutor vê os sintomas da doença e simplesmente ignora, ou não quer acreditar que o problema este ocorrendo com seu animal. “Os principais sintomas que temos hoje é a perda de peso, mesmo com o paciente comendo normalmente, problemas de lesões de pele, unhas grandes, lesões nas pontas das orelhas que são os mais comuns. Até a pouco tempo existia uma vacina que agora parou de ser fabricada, infelizmente tivemos a suspensão da produção da vacina, sendo que era a única que tínhamos no mercado e não se fala na volta do produto. Outros meios de prevenção é a coleira, uso de spray repelente, limpeza do quintal que ajuda não haver a criação do mosquito, plantio de plantas repelentes, como por exemplo citronela.”, disse Dr. Luís Paulo.

Quando o animal é diagnosticado com Leishmaniose, existe um tratamento muito avançado, porém esse paciente canino vai ser acompanhado para o resto da vida. “A doença não cura, o que existe é a estabilização do quadro clínico do paciente, então o tratamento visa dar uma melhor qualidade de vida do paciente e não transmissão da doença.”, disse o veterinário.

O outro método, infelizmente, é a eutanásia, que é feita em paciente que não tem chance de responder ao tratamento por ter outras comorbidades e aqueles casos em que infelizmente não há recurso financeiro para o tratamento.

Cães de rua

A questão da Leishmaniose acaba sendo ainda mais abrangente quando buscamos saber até onde a doença impacta o trabalho das pessoas que acolhem os animais abandonados.

Ouvimos Fátima Canuto, Presidente da ONG (Organização Não Governamental) Salvacão de Osvaldo Cruz e a voluntaria disse inicialmente que a Ong Salvacão abriga 74 animais que foram abandonados em situação de vulnerabilidade e foram acolhidos, cuidados e abrigados.

Esses animais são abrigados na casa da Fátima e em um sítio de uma outra pessoa voluntária que cedeu um espaço na propriedade como lar temporário. “A procura por adoção infelizmente é muito pequena, porque as adoções quando são para filhotes são muito rápidas, mas os adultos não são muito procurados. São animais de todos os tamanhos, machos, fêmeas, jovem, adultos e todos são castrados, vermifugados e com a saúde perfeita. Temos também animais com Leishmaniose, mas estão com os exames perfeitos.”, disse a presidente da Ong.

Segundo Fátima Canuto, a Leishmaniose é uma questão de saúde pública. “As pessoas atribuem muito a questão da doença ao animal, mas o animal não é transmissor, ele é hospedeiro, ou seja, o vírus é transmitido pelo mosquito contaminado. Se houvesse a devida limpeza nos quintais, nos terrenos, esse mosquito não existiria para picar o animal, se contaminar e transmitir para os outros animais e para as pessoas. A Ong Salvacão tem hoje 12 animais com Leishmaniose, eles são submetidos ao tratamento para a doença, todos usam coleiras e seus exames tem dado não transmissores.”, destacou a protetora.

Leishmaniose em humanos

Buscamos saber do problema quando a questão é Leishmaniose em humanos, quem falou com a reportagem do Portal Metrópole de Notícias foi a Dra. Ana Paula Servato, médica clínica do município e atualmente especializando-se em Dermatologia.

A médica começou explicando que a Leishmaniose é uma doença infecciosa causada por um protozoário do gênero leishmania e ela é transmitida através de um vetor que a gente conhece como Mosquito Palha, e que em algumas regiões é chamado de Mosquito Birigui.

O vetor é responsável por inocular o protozoário na pele do ser humano causando a doença que pode se manifestar de duas maneiras:

A primeira forma é a tegumentar, onde ela acomete a pele, podendo ser também mucosacutânia, ou seja, acometendo a pele e a mucosa, principalmente a oral e a nasal.

A doença pode também se manifestar, embora menos incidente, na forma visceral onde acomete órgãos internos, principalmente fígado, baço e aí a pessoa tem uma repercussão sistêmica maior, apresentando febre, emagrecimento, perda de apetite e é uma forma mais grave e de mais difícil manejo. “Na verdade, a Leishmaniose é uma protozoose de grande importância, o Ministério da Saúde até coloca a doença como a segunda protozoose mais incidente, só perdendo para a doença de chagas. Em Osvaldo Cruz, já tivemos casos da Leishmaniose em humanos dos dois tipos. O que a epidemiologia traz pra gente é que a Leishmaniose tegumentar é mais comum do que a visceral.”, disse.

A médica explicou que os sintomas se iniciam geralmente por uma pequena lesão na pele, onde o mosquito atacou e essa lesão geralmente evolui para uma lesão maior, bem avermelhada, com bordas bem de marcadas, crostosa, com secreção, ulcerada e nesse caso a pessoa precisa procurar o serviço de atendimento médico.

Já a forma visceral, apresenta aumento do tamanho do fígado, baço, aumento da circunferência abdominal, associada com febre alta, prostração, perda de peso sem motivo e nesse caso o paciente deve procurar imediatamente o serviço médico. “Nós temos duas formas de disseminação da doença, sendo a primeira relacionada a desmatamento, a população morando nas periferias próxima a área bem arborizadas e a segunda forma é a parte de acúmulo de lixo, água, sujeira em terrenos baldios, o que faz com que haja procriação de animais que são chamados de reservatórios da doença, no caso roedores, cães e até cavalos em nosso meio mais urbano, e o homem acaba sendo atingido secundariamente.”, destacou a médica.

Isso significa dizer que as pessoas não pegam leishmaniose diretamente dos cães, roedores ou de outro ser humano, o responsável é o mosquito palha picando os animais reservatórios e depois picando o ser humano, transmitindo a doença.

Segundo a Dra. Ana Paula Servato, um ser humano doente não passa a Leishmaniose para outro ser humano.

A médica deixou ainda uma recomendação para quem for para regiões de florestas como numa pescaria, um camping, sítios, fazendas, para que faça uso de repelente. “No município de Osvaldo Cruz, quando a doença se manifesta de forma tegumentar, ou seja, na pele e mucosa a gente faz geralmente a biópsia, já quando a manifestação é visceral, existe um teste rápido que em caso de positivo o exame é enviado para Marília e o tratamento é feito por lá. Mas no caso de tratamento do time que ataca a pele, é feito com medicamentos vindos de Marília com supervisão da Santa Casa.”, finalizou.